Qualquer boa revista automotiva dos anos 80 traz testes de carros à álcool com números extremamente interessantes de consumo. O saudoso Ford Corcel II ficou famoso pela perfeita adaptação que teve ao sistema alternativo à gasolina. Fazia, com facilidade, cerca de 12km/l de álcool na cidade e, na estrada, atingia picos extraordinários de até 15km/l. Isso tudo com um carburador de corpo duplo.
Após duas décadas, e muito mais tecnologia, surge alguém para homogeneizar aquilo que nunca deu certo no passado, ou seja, carro a gasolina era carro a gasolina e veículo à álcool era veículo à álcool e ponto final. Um não rodava com o combustível do outro, por várias razões, dentre elas a taxa de compressão e o sistema de alimentação, com diferenças sutis, porém, fundamentais. Pois bem, água e óleo não se misturam (pelo menos até hoje), e aí em nome não se sabe lá do quê, inventa-se o carro bi-combustível. Fábricas correram em batismos e agarraram os termos “flex”, “total flex”, “flex fuel”, entre outros. A denominação, agora unificada é bem clara: carro “bi” anda somente com gasolina, somente com álcool ou com a mistura de ambos em qualquer proporção. Como o álcool tem queima mais elevada, aumenta a potência do motor em míseros hp´s divulgados à esmo pelas fábricas em seus releases ou propagandas. Tudo bem, o sistema representa um avanço tecnológico interessante, no entanto, essa “vantagem” somente seria válida para os consumidores, caso houvesse escassez de combustível nos postos, tal qual nos anos 70.
Amigo meu, possui VW Fox 1.6 “flex” de 4 portas e hoje optou somente em rodar com gasolina, pois o consumo do veículo rodando somente no álcool não é compensatório. Algo em torno de 18% apenas. Nosso test-drive desta edição, um interessante Fiat Idea Adventure, equipado com motor 1.8 da GM, após ser abastecido completamente com álcool, acendeu a luzinha amarela da reserva do tanque, sem ao menos completar 250 quilômetros de autonomia. Os dois exemplos a que me refiro aqui são diretos, mas o evento negativo do carro bi-combustível ser beberrão, é comum à todas as montadoras nacionais, salvo alguns modelos pequenos e de baixa cilindrada.
Há uma piadinha que fala que o pato herdou um monte de características de vários primos, mas, não anda, nem “fala”, não nada e nem ao menos voa com qualidade, pelo contrário, faz tudo mal feito. Hoje, os bi-combustíveis já são responsáveis por mais de 80% das vendas do mercado. Isso é fato paradoxal, por que contraria a lógica de que a tecnologia acompanharia essa “evolução”, ou seja, presumia-se carros mais econômicos no futuro, mas isso não acontece. É privilégio de trintões, como o velho e bom Ford Corcel II.
Abraço forte! (Texto): Fábio Amorim
quinta-feira, janeiro 04, 2007
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