quinta-feira, janeiro 04, 2007

Roda-a-roda do NASSER (04JAN2007)



2007, certezas, previsões

Fim de ciclo. É a primeira projeção ao ano que se inicia. Visão mundial, do canadense Scotiabank, o mercado de veículos novos deverá fechar a etapa de crescimento, exibida pelos países em desenvolvimento – os desenvolvidos têm exibido retração. China, Índia e América Latina, deverão ter o último ano de expansão, antes de atingidos pela retração econômica iniciada no maior mercado mundial, os EUA. Ano que passou, a China cresceu incríveis 40%, com vendas domésticas de 4,1M. Ainda dispõe de enorme margem de crescimento, podendo expandir-se até segundo mercado mundial em 2009, demanda maior para veículos de projeto nacional, médios e pequenos. A Índia cresceu a metade. Mercado parecido com o atual modelo brasileiro, onde as vendas representam 1% da população. Com grande desenvolvimento tecnológico, fechará a década com o porte do mercado brasileiro de hoje. Mas, ao contrário do Brasil, possui um Plano da Missão Automotiva, buscando crescer 400% nos próximos anos.

Na América Latina, México e Brasil maiores mercados, o Peru é o de maior expansão: 41% em 2006, previstos pelo menos metade deste índice em 2007. EUA e Canadá caíram novamente. Em 2006, respectivos 16,5M, reduzidos para abaixo de 16M em 2007, e 1,61M, indo a 1,54M.
Projeções atuais para o Brasil, 5% de crescimento, arranhando a marca de 1,9M. Pode ser pouco maior caso contidos os elevados juros a níveis civilizados. Não há projeto de crescimento utilizando o automóvel como alavanca; não é ano de eleições; a agricultura está sucateada; estradas esburacadas e inseguras; inexistem projetos de transporte coletivo; novos governadores ameaçam crescer impostos; a classe média continuará comprimida no processo de nivelamento por baixo das discrepâncias da distribuição de renda no Brasil. Ou seja, a expansão do mercado não será uma conquista do contribuinte, mas uma permissão atrelada a quão longos serão os financiamentos permitidos pela estabilidade da economia.

Cronograma tentativo de lançamentos
O ano de 2007 exibirá 4 produtos, iniciadores de novos ciclos: Renault Logan; sedã Volkswagen; Fiat Gran Punto; novo sedã pequeno Ford. O restante serão modelos importados ou versões dos já existentes. Veja aí:


Janeiro: Renault Grand Tour - a bela camioneta Mégane, apresentada em dezembro, inicia vendas. Maior missão, mostrar como o sedã Mégane é ótima opção preço/benefício; Citroën C6 - francês, grande, maior que o C5, chega para o segmento de luxo, como o maior dos Citroëns. Motor V6, 3.0, pouco mais de 200 cv; Nova Nissan Frontier - tailandês, série inicial de um picape do porte dos novos Toyota, marcado pela transmissão automática e o motor diesel mais potente da classe;

Fevereiro: Ford Fiesta – 1ª reformulação, feita para não perder o pique de vendas. Mudanças para marcar a nova colheita, especialmente de grupo óptico e grade; Honda Civic Si - opção do Civic para quem o acha "careta" e de pouca performance. Motor forte, 2.0 e transmissão com 6 velocidades; Agrale Marruá - Revisto, a partir de série experimental, virará produto. Desafio legal, não terá marcha reduzida, obrigatória pela legislação para uso de diesel; Mercedes Sportscoupé – produção exclusiva em Juiz de Fora (MG). É o C, mais curto. Para o mercado externo e projeção de vendas locais. Pretende 30 mil unidades/ano;

Março: Fiat Palio IV - revisão estética para ser a última versão do carro que superou o VW Gol. Quer manter-se o mais vendido. Em preço, entre o Mille e o novo Gran Punto; C4 Picasso - um Picasso grande, francês, com sete lugares. Não concorrerá com o atual Picasso, menor, e com projeto de uma década;

Abril: SpaceCross – é o argentino VW SpaceFox fantasiado com os detalhes do CrossFox, sugerindo habilidades para aventuras urbanas; MMC TR4 turbo - o conhecido utilitário esportivo, buscando justificar preço superior ao GM Tracker, pela aplicação de turbo e freios a disco nas 4 rodas; Toyota flex - viu o flex do Honda Civic, e desenvolveu o seu com a missão de apresentar-se melhor, argumento para vendas contra o concorrente em novas linhas;

Maio: Ford Ecosport - líder como comercial leve desde seu lançamento, a Ford quer manter a posição. Ampliará o grupo óptico, grade e detalhes; Renault Logan - para o mercado, pesquisa ao vivo. É grande, 4 portas, simplório, 1.6, 8 válvulas. É a evolução para o dono do 1.0, a maior faixa do mercado;

Junho: Golf 4 e 1/2 - versão antiga, remanescente no Brasil, terá mudanças na frente, grupo óptico e traseira, para sobreviver em produção e vendas; GM Y – surpresa no Salão do Automóvel, bem formatado utilitário esportivo sobre plataforma do Corsa. Menor em tamanho, preço e motor 1.4 que o líder Ford Ecosport;

Julho: Citroën C4 sedã – argentino, primeiro de nova família, começará com versão 4 portas 1.6 e 2.0. Concorrerá com seu irmão de plataforma, o Peugeot 307 sedã.

Agosto: VW sedã – finalmente a VW inicia substituir a família Gol, aos 27 anos. Começará em segmento onde não atua, dos sedãs 4 portas. Mercadologicamente, o novo Voyage;

Setembro: Fiat Gran Punto - sucesso europeu, conviverá com o Palio. É maior e dele surgirá nova família com o 200, sucessor do Marea e versão camioneta;

Novembro: Ford sedã - o Projeto P424, derivado do Ka, o 4 portas mais barato do mercado, a ser construído na ociosa fábrica de São Bernardo do Campo (SP).

No Ar: Deverá acontecer em 2007: mudança nos utilitários Fiat Ducato, Peugeot Boxer, Citroën Jumper; lançamento do sempre adiado caminhãozinho Hyundai; produção dos picapes indianos Tata pela Fiat Argentina; início da montagem dos chineses no Uruguai.

Ford compra a Troller
A Ford é a nova controladora da Troller. A tradicional montadora assumiu a pequena fabricante cearense de jipes e picapes, com as bênçãos do governo federal. Negócio aparentemente curioso, pela diferença de perfil entre as empresas. A Ford, com dois amplos parques fabris, em São Bernardo do Campo (SP) e Camaçari (BA), estrutura industrial altamente produtiva, produção convencional de carrocerias estampadas em chapa de aço, soldadas por baterias de robôs. A Troller, pequena, de estrutura pós-artesanato, carrocerias moldadas manualmente em fibra de vidro.
Entretanto, não foram os veículos que motivaram a aquisição, como insistem alguns órgãos de imprensa. O jipe Troller T4 e o picape Pantanal, assim como as instalações industriais em Horizonte, proximidades de Fortaleza, foram parcelas de expressão secundária. Motivo principal, incentivos fiscais. Como os da Troller eram mais atrativos no longo prazo, a Ford renunciou aos de seu projeto em Camaçari, e assumiu os da Troller. Processo demorado e costurado com habilidade. Da consulta à matriz e seu convencimento, em época de substituição dos executivos encarregados da operação América Latina, à mudança de local na presidência da empresa. Como ambas contam com incentivos federais e estaduais, realizou ampla e delicada costura, para provar legalidade e viabilidade. Ainda enfrentou oposições e intrigas de marca concorrente – que não faria o negócio, mas queria inviabilizá-lo.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior foi consultado. Equilibrado, de um lado, tinha interesses em não deixar que a Troller se inviabilizasse. Mas, por outro, cabendo-lhe fiscalizar o cumprimento da legislação da atividade, argüiu cautelas legais. Para dar aval ao negócio, a Ford levou a Brasília, para conversas nos ministérios do Desenvolvimento, da Fazenda e do Planejamento, seu ex-presidente Antônio Maciel Neto, artífice de sua salvação e transformação em empresa rentável, e Alcides Tápias, ex-ministro do Desenvolvimento. O governo entendeu não haver a proibida sobreposição de atrativos, e acabou por publicar Medida Provisória na semana do Natal, viabilizando a formalização do negócio, vigindo a partir de 1º de janeiro por razões contábeis.
A Ford renunciou aos incentivos e assumiu os da Troller, mais atrativos a longo prazo.
Quanto aos produtos Troller, o compromisso da Ford com o governo federal é mantê-los, pelo menos até o fim do regime incentivado, após 2010. A empresa anunciará aplicar seus meios, conhecimentos, a sinergia gerada com a fusão para melhorar o produto e baixar custos. Curiosa e interessantemente há agitação interna nos engenheiros da companhia para transferir-se a Fortaleza e assinar a mudança industrial e dos produtos, um marco na carreira de qualquer profissional desta atividade. A Troller vende jipes desde 1997: 6 mil unidades pela rede com 22 concessionários e 48 pontos de venda. O motor utilizado por seus produtos é o mesmo International 3.0 aplicado aos Ford Ranger.
Gente - Isaac Golfarb, 81, engenheiro, passou. Um dos implantadores da indústria automotora brasileira através da Lambretta. Pai do também engenheiro Rogélio Golfarb, diretor da Ford e presidente da Anfavea. A Coluna se solidariza com a família
. OOOO (R.Nasser-Foto: divulgação / Troller, agora Ford)

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