quarta-feira, janeiro 10, 2007
Prestígio, exclusividade e muito charme
Rolls Royce Silver Dawn de 1950: um verdadeiro tesouro motorizado, a máxima expressão do glamour
No início do século XX, mais precisamente em 1904, dois amigos, Charles Stuart Rolls e Frederick Henry Royce, tiveram uma idéia: criar um automóvel que superasse em perfeição, o mais bem feito dos pianos, o Steinway. A referência do instrumento musical, uma obra de arte quase tão cultuada quanto os violinos Stradivarius, serviu de inspiração para aquele que seria – e ainda continua sendo – o mais desejado de todos os carros, o Rolls-Royce.
Empreendedor incansável, Stuart Rolls iniciou junto com o amigo abastado, Henry Royce, o projeto. A empreitada, antes de qualquer coisa, deveria superar tudo aquilo que já havia acontecido sobre rodas. A escolha dos materiais, o desenho da carroceria e a qualidade da motorização foram três pontos bastante discutidos até obterem a aprovação final, pelo simples detalhe: tudo tinha que ser de primeiríssima qualidade, afinal de contas, os nobres clientes seriam criteriosamente selecionados pela fábrica para poder adquirir um modelo.
Por capricho do destino, um fatídico acidente em 1910, levou precocemente Henry Royce, que não assistiu ao sucesso do empreendimento. Por consideração ao sócio, Rolls manteve a identidade que até hoje, após 103 anos de fundação da marca, continua sendo sinônimo de qualidade, luxo e, principalmente, prestígio.
“The best car in the world”
O melhor carro do mundo. Esse é o slogan que a fábrica - originalmente inglesa e hoje regida pela alemã BMW -, criou para os seus quase exclusivos veículos. Uma frase direta e que retrata a essência mais pura do produto. Mitos não faltam ao redor da marca e um deles é que a Rolls-Royce jamais admite que seus veículos quebrem. Aos quatro ventos, publicam: “Nossos carros não quebram jamais, mas, em alguma situação, podem deixar de prosseguir”.
Junho de 1950
Reluzente com sua belíssima carroceria estampada em aço e pesando quase duas toneladas, esse lindo modelo Silver Dawn (madrugada de prata) de 1950, saiu da Inglaterra diretamente para as mãos de Carlos Jacmeyer, milionário portenho-judáico. De barco, atravessou o Canal da Mancha, passou algum tempo na França e, pouco mais de duas décadas depois, em 1975, chegou em Alagoas numa aquisição do industrial Mário Raul Armando Leão, que o conserva até os dias atuais.
Jóia brilhante
Qualificar um Rolls-Royce simplesmente de “carro” é um pecado tão grande quanto chamar um Patek Philippe de “relógio”, pois ambos ultrapassam o seu fim. São jóias feitas à mão e com uma exclusividade marcante, que enchem de orgulho o seu proprietário.
O Silver Dawn 1950 de Mário Leão é um raro exemplar de uma fornada de apenas 760 unidades produzidas entre 1949 e 1955. Sua cor preta e a magnífica frente com faróis redondos impõem mais charme que qualquer veículo moderno em produção. Outro mimo da fábrica, mais elegante que o chá das cinco, foi a tradição de ocultar durante décadas a potência de seus motores. Questionados, respondiam apenas que “todo Rolls-Royce possui a potência necessária para andar...” Outro enigma, também presente nesse modelo, é o metal de seu radiador. Até hoje, a liga que forma essa peça não foi declarada, mas, ourives experientes juram que todo radiador da marca é feito de prata pura!
Dama Alada
Símbolo máximo dos Rolls-Royce é a pequena estatueta fincada na parte da frente da máquina. A história declara que essa elegante fêmea representa a sabedoria dos séculos, a liberdade dos homens-pássaros, o tom perfeito dos cantores de Deus...
Deslizando de Rolls-Royce
Montado minuciosamente após exaustivos testes, todo Rolls-Royce só vem a público depois de passar por provas qualitativas. Para se ter idéia disso, cada porta é testada até 200.000 vezes por um mecanismo de repetição, antes de receber o aval positivo. Um motor de um Silver Dawn como este que andamos, em sua linha de montagem era analisado com um estetoscópio durante cinco horas ininterruptas, pois o funcionamento tinha que ser perfeito, sem falhas.
Vê-lo funcionar é admirar a engenharia do passado. Após um toque rápido na chave, um pequeno acelerador de mão serve de auxílio para o aquecimento do motor. O câmbio mecânico com alavanca na coluna de direção faz movimentar a massa exclusiva. Silêncio absoluto no interior. Após meio século de vida, a suspensão com ajuste automático sustenta a carroceria primorosamente. Por dentro, os bancos em couro e o teto solar adicionam conforto aos passageiros. As maçanetas, o vidro desenhado, o painel completo, tudo, absolutamente tudo nesse veículo é tratado com esmero.
Tradicionalmente, todo Rolls-Royce vem com o volante do lado direito, à inglesa. No entanto, este raro modelo, adaptado de fábrica para rodar na América, possui a condução do lado esquerdo. Agora, prepare-se para entender, enfim, algumas distinções que separam essa obra de arte dos outros meios de condução motorizados. O assento traseiro, revestido em couro bege claro foi fabricado para que haja perfeito conforto dos ocupantes e uma comunicação facilitada com o “choffeur”. Em diagonal (neste caso, do lado direito), o cavalheiro e proprietário, ordena ao condutor o trajeto desejado. À sua disposição, um pequeno depósito de charutos, para passar o tempo na estrada. Na outra extremidade, para chegar impecável aos eventos, a dama serve-se de uma mini-prateleira que comporta um elegante kit de maquiagem. Para completar o pacote de mimos, lindas bandejinhas de madeira e vidro se abrem para comportar sanduíches de pepino que devem ser degustados com chá... É nessa hora que se percebe, enfim, que não se está a bordo de um simples carro e sim, de um autêntico Rolls-Royce, o melhor carro do mundo. (FA / Foto: Fábio Amorim)
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