Prática e simples, porém, forte e funcional, a F-100 marcou época desde o seu lançamento no Brasil em 1957
Dois meses após a Ford começar a produzir o seu primeiro caminhão no Brasil - o F-600 -, deu-se também, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, o início da fabricação da primeira picape nacional da marca americana, a famosa F-100. Isso foi em outubro de 1957.
Trinta e dois anos antes, Henry Ford havia lançado o “T Runabout Pickup”, seu primeiro modelo equipado de fábrica com uma caçamba de aço, destinado a transportar cargas. Esse carro foi o embrião da Série F da Ford que, desde o seu lançamento em 1948, consolidou-se como a linha de maior sucesso da história da indústria automobilística mundial. Até hoje já foram vendidos 28 milhões de picapes da série F no mundo inteiro.
Motor “roquete”?
A nossa F-100 nacional era praticamente o mesmo carro feito nos Estados Unidos desde 1953, no entanto, em 1957 ela começou a ser montada aqui ainda com o motor V8 (4.5 litros, 272 polegadas cúbicas) americano. No ano seguinte, essa mesma unidade de força começou a ser fabricada no Brasil. Era o V8 “Rocket” (foguete, em inglês), que já equipava o Oldsmobille e tinha válvulas no cabeçote. De forma aportuguesada, brasileiros começaram a chamá-lo de “Roquete”. A fábrica indicava 4.500 cilindradas, potência de 161 hp e chamava-o carinhosamente de “Power King”.
Espartana e eficiente
Mesmo bebendo muita gasolina a cada quilômetro rodado (detalhe desprezível nos anos 50), a F-100, apesar de bastante simples, era muito eficiente para quem queria agilidade e confiabilidade no transporte de cargas. Do final da década de 1950 em diante, reinou absoluta nas estradas nacionais carregando, por exemplo, produtos perecíveis que precisavam chegar ao destino com a maior rapidez possível.
Por dentro, a F-100 era espartana e funcional. O conjunto de instrumentos vinha disposto em forma de arco e a alavanca do câmbio de três marchas posicionava-se na coluna de direção. No nordeste, esse tipo de solução mecânica recebe o nome de “câmbio royal”.
A direção dessa picape Ford que não tem auxílio de bomba hidráulica, mesmo assim, não é exageradamente pesada chegando a incomodar o motorista nas manobras. Sua caçamba original era do tipo “step-side”, bem estreitinha e com os pára-lamas salientes. Pela limitação da área de carga, muitos proprietários chegavam a arrancar a parte traseira, substituindo o conjunto metálico por outro maior, de madeira. Vendo isso, a fábrica na época começou a oferecer o veículo também na opção sem caçamba.
Bom achado
A F-100 1957 apresentada aqui, pertence ao médico Luiz Duarte Araújo, um apaixonado por veículos antigos e, nas horas vagas, construtor de incríveis miniaturas de automóveis. Luiz adquiriu a F-100 com a mecânica em bom estado, mas com a carroceria bem maltratada. De “terceira mão” (pois esse carro pertenceu aos Correios do Brasil e depois ao cidadão Dênis Brêda), ela precisava, enfim, de uma restauração apropriada para voltar à forma dos velhos tempos. “A instalação elétrica estava meio ruim, assim como a carroceria, mas a mecânica estava em perfeitas condições, mesmo após meio século de uso”, comenta Luiz.
Dois meses após a Ford começar a produzir o seu primeiro caminhão no Brasil - o F-600 -, deu-se também, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, o início da fabricação da primeira picape nacional da marca americana, a famosa F-100. Isso foi em outubro de 1957.
Trinta e dois anos antes, Henry Ford havia lançado o “T Runabout Pickup”, seu primeiro modelo equipado de fábrica com uma caçamba de aço, destinado a transportar cargas. Esse carro foi o embrião da Série F da Ford que, desde o seu lançamento em 1948, consolidou-se como a linha de maior sucesso da história da indústria automobilística mundial. Até hoje já foram vendidos 28 milhões de picapes da série F no mundo inteiro.
Motor “roquete”?
A nossa F-100 nacional era praticamente o mesmo carro feito nos Estados Unidos desde 1953, no entanto, em 1957 ela começou a ser montada aqui ainda com o motor V8 (4.5 litros, 272 polegadas cúbicas) americano. No ano seguinte, essa mesma unidade de força começou a ser fabricada no Brasil. Era o V8 “Rocket” (foguete, em inglês), que já equipava o Oldsmobille e tinha válvulas no cabeçote. De forma aportuguesada, brasileiros começaram a chamá-lo de “Roquete”. A fábrica indicava 4.500 cilindradas, potência de 161 hp e chamava-o carinhosamente de “Power King”.
Espartana e eficiente
Mesmo bebendo muita gasolina a cada quilômetro rodado (detalhe desprezível nos anos 50), a F-100, apesar de bastante simples, era muito eficiente para quem queria agilidade e confiabilidade no transporte de cargas. Do final da década de 1950 em diante, reinou absoluta nas estradas nacionais carregando, por exemplo, produtos perecíveis que precisavam chegar ao destino com a maior rapidez possível.
Por dentro, a F-100 era espartana e funcional. O conjunto de instrumentos vinha disposto em forma de arco e a alavanca do câmbio de três marchas posicionava-se na coluna de direção. No nordeste, esse tipo de solução mecânica recebe o nome de “câmbio royal”.
A direção dessa picape Ford que não tem auxílio de bomba hidráulica, mesmo assim, não é exageradamente pesada chegando a incomodar o motorista nas manobras. Sua caçamba original era do tipo “step-side”, bem estreitinha e com os pára-lamas salientes. Pela limitação da área de carga, muitos proprietários chegavam a arrancar a parte traseira, substituindo o conjunto metálico por outro maior, de madeira. Vendo isso, a fábrica na época começou a oferecer o veículo também na opção sem caçamba.
Bom achado
A F-100 1957 apresentada aqui, pertence ao médico Luiz Duarte Araújo, um apaixonado por veículos antigos e, nas horas vagas, construtor de incríveis miniaturas de automóveis. Luiz adquiriu a F-100 com a mecânica em bom estado, mas com a carroceria bem maltratada. De “terceira mão” (pois esse carro pertenceu aos Correios do Brasil e depois ao cidadão Dênis Brêda), ela precisava, enfim, de uma restauração apropriada para voltar à forma dos velhos tempos. “A instalação elétrica estava meio ruim, assim como a carroceria, mas a mecânica estava em perfeitas condições, mesmo após meio século de uso”, comenta Luiz.
Após anos de espera, (pois o antigo dono não queria vendê-la), Luiz Duarte, enfim, conseguiu adquirir o veículo que depois de apenas seis meses de restauração voltou a brilhar como novo. “Quando vi a possibilidade de comprá-la, segurei a chance com as duas mãos e os dois pés”, brinca o médico que adora preservar a história automobilística nacional, pois também é dono de um Galaxie Landau, um Fusca, um Puma e um Jeep.
Passeio no tempo
Grata satisfação poder guiar um modelo desses, nascido no princípio da criação do Geia (Grupo Executivo da Indústria Automobilística) no Brasil. Saindo do bairro de Jaraguá, engatei a primeira marcha (que é, na gíria, “sêca” e precisa estar como carro completamente parado para ser utilizada) e segui em rápido passeio pela orla. O “vêoitão” ronca bonito, sem falhas e bastante silencioso. Não acelerei fundo, pois a jóia é preciosa, mas força é o que não falta, apesar do peso enorme de quase duas toneladas. Seus freios são obsoletos, a tambor, mas, em baixa velocidade, dão conta do recado. A suspensão é rígida, mas não chega a ser desconfortável. Possivelmente deve tornar-se mais agradável ao guiar quando carregada. A cor verde da sua lataria reluzia com o pôr-do-sol e pescoços se contorciam para acompanhar o desfile da história em tempo presente.
Passeio no tempo
Grata satisfação poder guiar um modelo desses, nascido no princípio da criação do Geia (Grupo Executivo da Indústria Automobilística) no Brasil. Saindo do bairro de Jaraguá, engatei a primeira marcha (que é, na gíria, “sêca” e precisa estar como carro completamente parado para ser utilizada) e segui em rápido passeio pela orla. O “vêoitão” ronca bonito, sem falhas e bastante silencioso. Não acelerei fundo, pois a jóia é preciosa, mas força é o que não falta, apesar do peso enorme de quase duas toneladas. Seus freios são obsoletos, a tambor, mas, em baixa velocidade, dão conta do recado. A suspensão é rígida, mas não chega a ser desconfortável. Possivelmente deve tornar-se mais agradável ao guiar quando carregada. A cor verde da sua lataria reluzia com o pôr-do-sol e pescoços se contorciam para acompanhar o desfile da história em tempo presente.
Na opinião de Sérgio Berezovsky, diretor geral da revista Quatro Rodas, “poucos carros nacionais ocupam tão pouco espaço na literatura e na memória dos brasileiros quanto a picape Ford F-100, o que é uma injustiça praticada contra um dos pioneiros feitos no país.” De fato, isso é verdade. Apesar da explosão de vendas que acompanha o modelo até hoje e de sua competência nas estradas, não é um dos carros mais famosos do Brasil, mas, como existem amantes do antigomobilismo, como o pacato Dr.Luiz Duarte, exemplares incomuns como este continuarão incólumes para o deleite das futuras gerações. (Texto e fotos: Fábio Amorim)
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