sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Parece de brincadeira, mas não é


Globalização é isto: uma empresa italiana e uma indiana fizeram ajuste de interesses para produzir carros com motor de uma e o resto de outra, para vender a maior parte da produção num país vizinho, e a menor quantidade no país de origem.
No varejo, as montadoras Fiat e Tata anunciaram ter chegado a entendimento para projeto industrial. A indiana autorizará a italiana a operar através de sua filial brasileira, controladora das atividades da marca na Argentina. Na hoje ociosa fábrica de Córdoba, onde atualmente produz motores para Fiats e câmbios para Fiats e Peugeots, fará um picape médio, para concorrer com GM S10, Ford Ranger, Mitsubishi L200, Nissan Frontier. O produto utilizará motor brasileiro da Iveco, braço comercial Fiat, um quatro cilindros, turbodiesel 2.3 litros, 134 cv, emissões enquadradas na norma Euro4. A produção será em leque, como o fazem os concorrentes: cabine simples e dupla, tração 4x2 e 4x4. Vendas iniciarão em 2008, e a fábrica da Fiat, antiga produtora de Unos e Palios fará o licenciado Tata inicialmente em 20 mil unidades anuais.

Sem brincadeira
Apesar do nome engraçado – em verdade o sobrenome do industrial indiano mais poderoso nestes dias, uma espécie de soma de Votorantim com Gerdau – é coisa séria. Não se trata apenas de mais uma das numerosas marcas que chegaram – e se foram – na última década. Mais que isto, é pé industrial bem plantado de um dos países com maior crescimento no mercado automobilístico mundial, ao lado da China. O temor do mercado com a concorrência dos chineses e indianos, deixa de ser medo e assume a realidade. Muito mais que a "joint-venture" entre os chineses e o grupo argentino Macri para operar fábrica no Uruguai, a forma de chegada dos indianos é mais densa. O parceiro é sólido, é líder, as instalações e a rede de distribuição são da melhor qualidade.
Quanto ao produto, apesar da superfície do comunicado oficial, pode-se projetar o cenário de ações e a posturas: querem estar abaixo do preço dos concorrentes. Farão isto pelas características dos produtos. São de projeto e construção mais baratos que os outros picapes construídos com metodologia norte-americana ou japonesa. E pelo emprego do menor motor no segmento - todos os outros estão ou estarão na faixa entre 2.8 e 3.2 litros de cilindrada. A projeção de mercado que se pode fazer é que Fiat e Tata querem colocar o novo picape em preço inferior aos demais diesel, e logo acima das versões gasolina e flex dos concorrentes. Este desenho básico é o que explica a entusiasmada indicação do volume inicial de produção: 20 mil unidades. Mesmo em se considerando que as vendas no Brasil serão no mínimo 60% deste volume, com distribuição das restantes para Argentina e posteriormente América do Sul, o volume pretendido de 12 mil unidades significa, comparativamente, estar próximo à Mitsubishi, muito mais que a Ford, o dobro do Nissan Frontier.

Positivo
Bom para todo mundo. A Fiat passa a ter um produto a mais nos salões de seus revendedores; os concessionários gerarão emprego para vendedores e mecânicos especializados; os argentinos voltaram a ter uma fábrica operacional; os indianos colocaram o pé no mercado da América do Sul com um parceiro que é líder continental, e o mercado se redesenhará. A concorrência do Fiat Tata possivelmente provocará o que o jargão da indústria chama de reposicionamento. Na prática uma redução de preços dos picapes, especialmente a diesel, de preços injustificadamente estratosféricos. A "Coluna" antecipou a informação em 10/01/2007, assim como a da produção de um utilitário esportivo, ainda sem a confirmação oficial.

Outro brasileiro bom de lápis
Saiu o resultado da 4ª Edição do Concurso de Design Peugeot, competição mundial entre jovens designers escolhidos por apertados critérios. Para o setor, o destaque foi o revolucionário projeto “N JOOY”, do brasileiro Wesley Saikama, estudante de design da UFPR. Mas o futurismo que atraiu atenções o puniu: ficou em 2ª lugar. Venceu o “FLUX”, do romeno Mihai Painatescu, de 20 anos, aluno do Instituto Europeu de Design, em Turim.

Quase
Design tem sido uma das maiores competências brasileiras. Tanto assim que o país, apesar de restritíssimo mercado, pois no caso dos automóveis a maioria dos traços finais é empurrado goela abaixo no gosto brasileiro pela globalização, tem representantes estelares no exterior.
O projeto do paranaense inspirou-se nos antigos carros de fórmula 1, daí sua forma de charutinho, e seu ponto de atração, foi também o que o enviou à posição secundária: as rodas são esferas controladas por motores elétricos. O carro é agradável mistura de retas e curvas, bem proporcionado, com 3,50m de comprimento e 1,65m de largura. Saikama obteve indicação de mais de 116 mil internautas. Destes, os 30 mais votados foram a uma pré-seleção que indicou 10 finalistas. Ao final, o júri presidido por Frédéric Saint-Geours, diretor geral da Peugeot, escolheu o melhor. Um resultado inesperado, comenta Saikama, estreante em concursos. "Esse reconhecimento será muito importante profissionalmente, e deverá me abrir portas no mercado de trabalho", conclui Saikama.

Romeno
O vencedor foi o Flux, do romeno Mihai Painatescu, de 20 anos, que estuda em Turim, meca dos "carrozzieri". Segundo o júri, revela versatilidade, possibilitando o uso em diferentes condições de piso, em total contato com o ambiente externo – por isso a ausência da capota. O Flux é movido por uma estação de energia de hidrogênio compacta localizada na parte traseira do veículo, em conjunto com um tanque instalado sob o capô dianteiro. O capô e os painéis laterais são de plástico, poliuretano nos assentos e alumínio para as peças mecânicas. Os protetores que envolvem o "cockpit" e o chassi são feitos em metal.

Venezuelano 3º.

O terceiro lugar é de Gustavo Ferrero, com o projeto Allscape. Trata-se de um veículo híbrido – pode ser movido a gás natural ou através de quatro motores elétricos, localizados na rodas –, que traz suspensão esportiva rígida e um sistema de transmissão seqüencial de sete velocidades, com três modos de utilização: automática, manual e F1 – destinada para o uso em competições. Porque o brasileiro não ganhou? Simples. Qualquer projeto de design teve ter como base uma evolução, capacidade de viabilização, e o sonho de tornar-se um caminho. O “N Jooy” pecou ao ser revolução. (Texto: Roberto Nasser / Fotos: divulgação)

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