Único no mundo!

JM: nascido de um ex-bugre Selvagem

O tempo, maestro do destino, às vezes inverte as cousas: transforma menino em homem e, no futuro, homem em menino.

Debruçado sobre livros e longe dos brinquedos em boa parte da sua infância, Antônio Julião Rodrigues Marques, o conhecido musicista alagoano Julião Marques, confessa não ter se divertido muito quando criança. Para compensar as horas de estudo árduo, onde era compelido a atingir notas superlativas na escola, Julião desenvolveu como hobby, uma antiga paixão: o automobilismo. Leitor voraz de títulos ligados ao tema e apaixonado por Fórmula 1 há décadas, Marques encarou um divertido desafio quando decidiu modificar o seu Bugre Selvagem adquirido zero-quilômetro em 1979. O resultado foi o “JM”, um carro único no mundo que usa a estrutura básica do antigo buggy, mas que tem, entre tantas alterações, tração dianteira e motor VW AP800. Saiba um pouco mais dessa aventura que durou, exatos, quatro anos, três meses e dois dias de muito trabalho.

Porque mudar?
Receoso com a saída de linha do conhecido motor boxer refrigerado a ar – tradicionalmente usado em Fuscas, Kombis e bugres –, Julião Marques imaginou qual seria a solução para manter vivo o seu querido ´Selvagem´. “Na realidade eu não queria um carro exclusivo, apenas fiquei apreensivo com a saída de linha do motor a ar e decidi adaptar um propulsor refrigerado à água da VW, um da linha AP. A partir daí, a brincadeira foi ficando melhor a cada dia e o JM foi tomando corpo”, comenta sorridente, Julião.

Trabalhão
“Comecei a refazer esse carro no dia 2 de novembro de 2002. Errei muito, reconstruí muita coisa, mas o resultado não poderia ter sido melhor”, ressalta orgulhoso, o proprietário. Sociólogo, maestro e também professor de história, Julião tem pelos carros uma curiosidade intrigante. “Quando pequeno, achava que seria engenheiro mecânico”, destaca. Só para contrariar, ele imediatamente recusou uma solução já conhecida, que seria adaptar o propulsor AP na parte traseira do carro, o que não exigiria tantas modificações. “Quis o motor na frente para poder instalar uma direção hidráulica”, conta. E assim o fez, reunindo numa saborosa salada metálica que trouxe no tempero, também, freios a disco e suspensão independente nas quatro rodas, motor AP800 de 116 hp de potência, som de primeiríssima qualidade, painel completo e muito conforto. “Estou revivendo a minha infância nesse bugre”, diz com muito bom humor Julião que, pasmem: diz que vai adicionar ao bólido, tração 4X4 e injeção eletrônica! “O projeto já está pronto e agora só falta executar”, comenta o intrépido projetista que contará com o apoio de seus fiéis parceiros, João dos Santos (Dedinho), Edvaldo Gomes (Mestre Caneco) e Fernando, profissionais de funilaria, mecânica e sonorização, respectivamente.

Harmonia
Diferente de tudo o que já se viu rodando por aí, e apesar de tantas partes distintas unidas em esdrúxulo quebra-cabeças, o JM consolidou-se num veículo harmonioso. Pintado em branco pérola (cor herdada da Toyota), ele possui grade dianteira de Corolla, faróis de Celta, pára-brisa de Uno, retrovisores de Fiat Furgão e Kia Besta, bancos de Gol (assim como a maioria da mecânica), lanternas do Corsa, etc... Mesmo com tudo isso e ainda com vários acessórios, como neon, faróis de xenônio e aerofólio traseiro, o JM não é um bicho estranho, pois tem carisma e presença marcante.

Em rápido passeio, guiamos o tal brinquedo. Estável, macio e dono de uma ótima relação peso-potência (são 116 cavalos para movimentar 884 quilos), o JM mais parece um carro normal com características de bugre, como os grandes pneus traseiros, por exemplo. O engate é preciso, a embreagem é suave e os freios são absolutamente equilibrados. O JM impressiona pelo bom nível de acabamento e pela exclusividade. Seu ótimo desempenho e a estabilidade geral do conjunto são provas de que esse brinquedo de gente grande foi feito com todo esmero e carinho do mundo. “Sinto-me amplamente feliz pelo resultado final do processo”, conclui com um largo sorriso, Julião Marques. (Texto e fotos: Fábio Amorim)